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FIM DE SEMANA (1975)

O filme FIM DE SEMANA foi realizado em 1975. Nele eu pretendia mostrar o universo absolutamente desconhecido da moradia dos trabalhadores nas periferias de São Paulo. O conhecimento dessa realidade teve como pioneiros estudos e pesquisas de Carlos Lemos e  Maria Ruth Amaral de Sampaio.

Sergio Ferro fez uma incrível reflexão sobre o objeto desses estudos: a autoconstrução da casa, baseado nos estudos de Marx: o produto é um enxuto resultado do processo de produção (1- recursos pingados – sem financiamento, 2-  materiais, os mais baratos disponíveis nas proximidades, 3- mão de obra doméstica disponível nos fins de semana e técnica consolidada). Sergio comparou esse processo ao bolo caseiro: gasta-se o mínimo necessário para colocar em pé um bolo ou uma casa. Finalmente, Chico de Oliveira seguindo essa trilha de pioneiros mostrou que essa força de trabalho, que trabalhava nos fins de semana para construir sua moradia, o fazia devido aos baixos salários e, portanto, contribuía com o processo de acumulação capitalista.

O diretor do filme, Renato Tapajós tinha acabado de sair da prisão onde permanecera por quase 5 anos por ter lutado contra a ditadura. Eu peguei a indenização por ter saído de um emprego e paguei o filme (os custos de um 16 mm) que contou com a participação gratuita de muitos amigos. Apresentei o filme na reunião da SBPC de 1975. A partir daí ele teve uma carreira muito bem sucedida em cine clubes de todo o brasil. Essas pesquisas geraram um livro que organizei – A produção capitalista da casa e da cidade no brasil industrialO livro foi lançado em 1979 pela editora Alfaomega, com apresentação de Chico de Oliveira e textos de Paul Singer, Rodrigo Lefévre, Gabriel Bolaffi, Raquel Rolnik, Nabil Bonduki, além do meu.

LOTEAMENTO CLANDESTINO (1978)

O filme LOTEAMENTO CLANDESTINO nasceu para ser um instrumento pedagógico de corte paulofreyreano, em 1978. Pretendia explicar aos compradores de loteamentos ilegais porque não eram donos formais de seus lotes após comprar e pagar a imobiliárias que os vendiam em plena luz do dia. Milhares de famílias que não cabiam no mercado formal e, portanto, sem alternativas acabavam nas mãos dessas imobiliárias.  A maior parte delas estava situada em área de proteção dos mananciais longe dos olhos do urbanismo que se praticava nos governos.

Muitos de nós estávamos militando nas comunidades eclesiais de base da igreja católica nas periferias de São Paulo. Em plena ditadura tínhamos um guarda chuva. Simulamos, por meio de um teatro, o papel do loteador e da prefeitura.

Os atores eram lideranças que despontavam nos movimentos sociais urbanos locais (Joana, Efraudísio, por exemplo) e companheiros egressos da luta contra a ditadura como Amilcar e Caio Boucinhas. Outros participantes ainda estavam clandestinos como era o caso de Moacyr Villela que montou o filme com o nome de Rubens de Carvalho. Uma produtora de cinema – Spectrus – que pertencia ao medico Sergio Taufik, nos ajudou a financiar os custos, mas todos trabalharam voluntariamente e gratuitamente como câmeras, som, etc. O arquiteto Walter Ono fez a animação inicial da apresentação.

A má qualidade do som e o desbotamento das cores não impedem de perceber a dimensão dessa urbanização capitalista periférica.