Ontem fui convidada a escrever na Folha de São Paulo (a menos que seja um trote, mas a interlocutora foi muito insistente). Há algum tempo atrás a UOL já havia me convidado para fazê-lo e eu não aceitei, dessa vez fui mais clara. Disse a ela que transmitisse ao editor que não quero colaborar com a grande e vergonhosa mídia golpista do país, mesmo num jornal como a folha que tenta incluir articulistas de todos os matizes políticos e ideológicos para, justamente, melhor ocultar a manipulação das informações. Achei interessante ela argumentar que, como discordo, teria total liberdade de escrever o que penso.
Quanta liberdade de expressão para assegurar um mercado que está sem opção de jornal diário impresso!
Não faço isso porque me acho muito importante.
Reconheço que poderia atingir mais pessoas escrevendo num jornal de grande circulação e é evidente que isso faz parte dos desejos de qualquer autor, militante político ou profissional envolvido com as causas pública (a política urbana no meu caso). Mas estou convicta que, neste momento dramático de mudanças no país é hora de consolidar uma mídia alternativa que não tenha tantos compromissos com o atraso, a desigualdade e a desinformação que aprisionam o brasil.
Prefiro fazer parte desse esforço de formigas que, por meio de blogs, sites, páginas, etc, tenta abrir um caminho novo para as novas gerações.
Como falo muito para jovens em todo o Brasil tenho insistido que há algo de novo entre eles apesar do esforço brutal da máquina de alienação que atua por meio das mídias ou do consumo.
Em mensagem anterior postei um dos heróis dos jovens das periferias urbanas: Mano Brown. Hoje vou postar outro herói dos novos tempos que está se consolidando no firmamento: Jean Wyllys.
Vejam o que ele escreveu sobre o convite para escrever no jornal o globo. O cabra é muito corajoso!
Pingos nos “is”!
Agora eu posso contar
Texto de Jean Wyllys
Poucos dias depois da morte daquele garotinho de 8 anos, o Alex, cujo pai o espancou até dilacerar seu fígado porque o menino gostava de lavar louça e de dança do ventre (isso meses depois de o deputado viúvo da ditadura militar dizer publicamente que gays, lésbicas e transexuais só somos o que somos por falta de porrada na infância para que tomássemos jeito de homem ou de mulher), eu recebi a ligação de um editor de O Globo me pedindo para que escrevesse uma resposta a um artigo de um dos seus colunistas (aquele que o jornal demitiu recentemente e que também escrevia para Veja até ser dispensado por ela), que havia afirmado em seu texto que a esquerda brasileira esconde que a homofobia é própria ou originária de países da África negra para, aqui no Brasil, não prejudicar a luta do movimento negro contra o racismo. Antes de atender ao pedido e responder a essa mistura de ignorância com desonestidade intelectual que constrangeu os próprios editores de O Globo, eu perguntei ao tal editor: “Por que o jornal contratou e mantém um sujeito desses escrevendo para seus leitores?”. O editor me respondeu: “Desculpe-me, deputado, mas eu não sou responsável por isso. Não depende de mim”.
Bom, por que contei essa história? Ora, porque os principais jornais e revistas desse país (mesmo a Folha de São Paulo, o mais “plural” desses veículos), em seu propósito de derrubar o governo Dilma e destruir o PT, não bastasse a linha editorial de suas reportagens e notícias, encheram seus espaços com “jornalistas” e “intelectuais” cuja a atuação e produção de conteúdo se pauta pela desonestidade intelectual, má fé, deturpação deliberada de fatos e declarações e, em alguns casos, por ignorância e analfabetismo político. O resultado final disso é uma permanente campanha de difamação e estímulo ao ódio e à violência cujo alvo não circunscreveu apenas o governo e o PT: estendeu-se a toda esquerda e ao campo político progressista e identificado com os direitos humanos.
Os jornais, revistas, telejornais e seus sabujos davam o material ruim necessário (meias-verdades, deturpações, manipulações, declarações e lados das histórias selecionados, ângulos de fotos e etc) acerca dos fatos e personagens políticos para que, na internet, os fascistas e difamadores profissionais produzissem sua avalanche de mentiras, calúnias, injúrias e teorias conspiratórias contra Dilma, o PT, a esquerda e o campo progressista, sem qualquer distinção: para os difamadores e fascistas, somos todos um bloco monolítico.
Sabia-se que tudo isso estava não só destruindo reputações e afetando os direitos políticos de cidadãs e cidadãos brasileiros, mas fortalecendo a extrema-direita nacional e seu fascismo. Entretanto, nenhum veículo da chamada “grande mídia” fez qualquer coisa para barrar esse processo; ao contrário (lembrem-se de que a última contratação da Folha de São Paulo foi um analfabeto político hipócrita e proto-fascista membro do MBL, cujo método de trabalho é constranger e difamar os contrários ao impeachment de Dilma)!
Mesmo com a escalada da violência produzida por esse “jornalismo” intimamente articulado com a difamação – os panfletos insultuosos atirados no enterro de Zé Eduardo Dutra; os insultos a Guido Mantega no hospital onde fora encontrar a esposa em tratamento de câncer; as ofensas a Alexandre Padilha, Patrus Ananias e Gregório Duvivier em restaurantes; os ataques às casas de Jô Soares, Juca Kfouri, Ciro Gomes e do filho do ministro do STF Teori Zavascki; os insultos a Chico Buarque numa rua do Leblon; os atentados a sedes de partidos e sindicatos; e etc., fora a violência verbal perpetrada de maneira orquestrada nos perfis dessas pessoas e instituições nas redes sociais – apesar dessa barbárie, nenhuma desmentido, nenhuma matéria, nenhum artigo, nenhum editorial foi feito por qualquer desses veículos no sentido de contê-la; nenhum mea-culpa, afinal, o objetivo de derrubar o governo e PT estava sendo alcançado mesmo que inocentes estivessem sendo destruídos e um mal se fortalecendo (Foi Ricardo Noblat ou Merval Pereira que repetiu, como argumento, que “os fins justificavam os meios”? Não importa. Eles são a mesma coisa).
Agora reconhecida internacionalmente como antidemocrática, desonesta intelectualmente e excessivamente partidária por protagonizar e apoiar um golpe contra a democracia urdido por plutocratas e cleptocratas, a mídia brasileira quer se livrar do corpo morto ou esconder seu esqueleto no armário (até a patética revista Veja decidiu descobrir agora que Cunha é “do mal”). Tarde demais pra vocês, hipócritas e golpistas!
A esquerda e o campo progressista decidiram reagir de vez! Não só em manifestações de rua e denúncias à comunidade internacional contra seu golpe na democracia, mas por meio da reação imediata e enérgica ao fascismo e ao macartismo cotidiano perpetrados pelos analfabetos políticos e facistas em restaurantes, aeroportos, porta de residências, hospitais, cemitérios e etc. Juca Kfouri e Ciro Gomes foram os primeiros a reagir de maneira mais ostensiva aos seus detratores. Os fascistas não voltaram às suas casas depois disso. Ontem, foi o vez do ator José de Abreu reagir a um casal fascista – e com uma cuspida na cara de cada um!
Sempre existirão, claro, os que vão considerar a reação de Juca, Ciro e principalmente a de Zé de Abreu “extremadas”, “mal-educadas”, “grosseiras”, “violentas” e “desnecessárias”, inclusive nos veículos da chamada “grande mídia”. Quase sempre são os mesmos que eram insensíveis ou faziam vistas grossas e ouvidos moucos às violências sofridas pelos que agora eles acusam e condenam pela reação justa. Quem liga para esses hipócritas e canalhas?
Essa gentalha precisa saber que vivemos numa democracia e num estado de direito e que, nestes, o exercício de nossos direitos políticos, por mais que esse exercício contrarie sua visão de mundo, senso comum, teorias conspiratórias, analfabetismo político ou preconceitos, não lhe autoriza a nos insultar, injuriar, difamar, acusar, ameaçar e agredir em lugares públicos! E essa gentalha só começará a entender isso quando reagirmos pronta e energicamente. As pessoas de esquerda e do campo progressista têm o direto político à organização e à atuação políticas! Defender a democracia e a justiça só nos torna “cúmplices de ladrões” e/ou “vendidos ao governo e ao petê” nas cabeças desses imbecis, regadas por esse “jornalismo” abjeto praticado pela “grande mídia” – imbecis que, ao fim e ao cabo, serão os responsáveis pela chegada, à presidência da República, de um traidor citado em delação e cúmplice de um gângster reú no STF pelo crime de corrupção. Quanta ironia do destino, né?
Sendo assim, para garantir nossos direitos, inclusive o de ir e vir sem ser insultado por conta de nossas escolhas políticas, precisamos reagir aos fascistas! José de Abreu reagiu ontem e com razão! Tenho certeza de que o casal de fascistas não repetirá a façanha com Zé nem com qualquer outro! Não temos que ouvir calados nem deixar pra lá. Temos de gritar na mesma altura, fazer o mesmo barraco, impedir as filmagens constrangedoras, responder de imediato aos insultos, denunciar e processar os estabelecimentos que não tomarem providências imediatas e também os agressores. Só assim, esses analfabetos políticos e fascistas alimentados por esse jornalismo irresponsável e nefasto vão se pôr em seus devidos lugares.
Não passarão!