Entrevista para a Série Tão Longe Tão Perto, Espaço Humus – janeiro, 2015
(texto da página: http://espacohumus.com/erminia-maricato/)
Você diria que sua cidade dança, ou que sua rua ferve? Ou o espaço urbano, que é seu, não se engane, é de um marasmo triste à noite, de uma ebulição descabida de dia, e parece cada vez mais se atrofiar como organismo e crescer como concreto? A urbanista Ermínia Maricato não se conforma com o conformismo de todos com a morte mais do que evidente das cidades.
Cidade viva é cidade ocupada. Ermínia fala sobre a necessidade das relações e das trocas, o conhecimento da vizinhança, para ativar mais essa sensação do uso misto das cidades do que de subúrbios isolados, cada um em sua ilhota egoísta. É uma tarefa que encontra inimigos de aço. E também um silêncio, ela cutuca sem medo, que surge exatamente das partes da sociedade e de movimentos que deveriam estar mais preocupadas.
Afinal, cada pedacinho de terra no Brasil, até um ladrilho da calçada, sempre remeteu a relações de micros e absurdos poderes. Os espaços urbanos segregam e o direito à cidade fica parecendo utopia se não for uma ação constante. Chamas como as manifestações de junho e julho de 2013, que conseguiram colocar nas pautas públicas o transporte, são importantes para essa reapropriação de espaço. Mas o único jeito de impedir a morte das cidades é o interesse genuíno por elas.
E isso tem feito parte do trabalho de Ermínia, essa identificação de cidades invisíveis e a coragem de recolocá-las no mapa. É nesse espírito de ação, de retomada da cidade, que os centros urbanos poderão sair do limbo e voltar a bailar.
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A websérie Tão Longe, Tão Perto acompanha o estudo e a pré-produção do filme documentário Largou As Botas e Mergulhou No Céu, que será rodado no próximo verão. A proposta da série é trazer experiências e ideias de gente que trabalha diante das questões sociais, políticas e culturais brasileiras, seja da antropologia ao cinema, do debate acadêmico ao das ruas.
O leque de entrevistados – cada um dos episódios traz uma conversa sob a mesma estética de enquadramento e linguagem – passa por literatura, música, cinema, televisão, arquitetura, design, sociologia etc., para, a partir da área de atuação do personagem, levantar os principais temas, questões e aflições da contemporaneidade.
De forma geral, Tão Longe, Tão Perto visita os trabalhos e divagações dos entrevistados para construir um raciocínio sobre a nossa sociedade atual. Da série, que começa a ser publicada no mês de outubro no Espaço Húmus, a equipe vai absorvendo o engajamento teórico para contar no documentário Largou As Botas e Mergulhou No Céu histórias comuns aos brasileiros, objeto de pesquisa e criação dos entrevistados deste momento de estudo.
Passada a série, o documentário tentará mostrar na prática todos esses contrastes, inquietações e particularidades da população brasileira por mais de dois meses de viagem, de dezembro até o Carnaval, tendo como área de abordagem o sertão e o litoral nordestinos – o Nordeste é a região escolhida para o projeto, ainda que não se trate de um trabalho com foco regional ou limitação geográfica. — A equipe é formada por Bruno Graziano, Paulo Silva Jr., Raoni Gruber – trio que realizou o documentário O Acre Existe (estreia no Canal Brasil em 28 de outubro) – e Cauê Gruber.
A websérie Tão Longe, Tão Perto estreia em outubro e terá 10 episódios entre as semanas que antecedem a viagem a o período da própria produção do documentário. O filme Largou As Botas e Mergulhou No Céu será produzido entre dezembro de 2014 e fevereiro de 2015 e tem previsão de lançamento no segundo semestre de 2015.